segunda-feira, 27 de junho de 2011

Tradição // Uma arte feita de labirintos

Todas as tardes a cena se repete. Dona Maria Aparecida coloca sua cadeira em frente ao seu ponto comercial, no número 60 da Rua João Hélio, na cidade de quase 13 mil habitantes. Logo depois é a vez da irmã Ana fazer-lhe companhia. Sem demorar muito, mas sempre atrasada, a prima delas, Dona Maria Julieta, completa o time das labirinteiras. Elas fazem um trabalho detalhista, fascinante e que caiu no esquecimento. Semelhante ao bordado, renda e ponto de cruz, o labirinto é uma atividade desconhecida para a maioria das pessoas e até quem já ouviu falar não tem mais tantas referências sobre este tipo de artesanato.

Cada vez mais esquecido, artesanato sobrevive através de idosas como as do município de Arez. Foto: EDUARDO MAIA/DN/D.A PRESS
Foi preciso andar um pouco, mais precisamente ir até o município de Arez, distante pouco mais de 58 quilômetros de Natal, para achar três simpáticas senhoras que insistem em manter viva a tradição da criar e descobrir verdadeiros labirintos com os fios de tecido. Lá mesmo, segundo a aposentada Maria Julieta Chacon, de 74 anos, e as irmãs Maria Aparecida, 70, e AnaMenezes, 80, o labirinto, que já foi uma das principais fontes de renda do município, não tem seu valor preservado. O que poderia ser considerado um desrespeito com uma arte que requer tamanho trabalho e dedicação, entretanto, é recompensado por quem admira o trabalho das três senhoras, pessoas que vêm de outras cidades e estados apenas para conhecer o trabalho das labirinteiras de Arez.

"Todas as tardes estamos aqui, chova ou faça sol", diz Dona Maria Aparecida. "Aqui a gente vê tudo, quem chega e quem sai", completa a irmã Ana. "Dá para saber da vida de todo mundo", brinca dona Julieta. Sempre com largos sorrisos, as três vão falando um pouco da atividade. Segundo elas, o labirinto não é bordado, nem ponto de cruz, tampouco renda. "É parecido, principalmente com o ponto de cruz, mas não é a mesma coisa. Aqui a gente tem que descosturar o tecido para depois ir refazendo e fazendo o desenho, como num labirinto", explica dona Aparecida, a única que ainda faz labirinto para vender. As outras, a irmã Ana e a prima Julieta, fabricam apenas para uso ou para ocasiões especiais, como presentes. "Quando a gente era moça, fazia para vender. Essa era a renda da gente e daqui da região. Hoje em dia fazemos apenas para nós mesmas", conta Dona Julieta.

Em Arez, quase todos os habitantes conhecem as labirinteiras, porém nem todos apreciam sua arte. Admiradores e consumidores, entretanto, não faltam, segundo elas. E eles vêm de longe. "Vem mais gente de Natal, João Pessoa, Recife, do interior. Minha filha começou a levar para Pau dos Ferros. Teve também uma mulher do Rio de Janeiro que gostou e quis levar para lá", conta Dona Aparecida. Tamanho trabalho e reconhecimento tem seu preço. E ele é alto, se comparado aos valores dos artesanatos semelhantes, como o bordado comum, mas não se levado em conta a grandiosidade do trabalho das labirinteiras. Uma peça de toalha de mesa, por exemplo, pode demorar até três meses para ser finalizada e custar até R$ 600. Peças mais comuns, que têm maior rotatividade, já são bem mais baratas, emtorno de R$ 30, e podem demorar menos de 20 dias para serem feitas. O artesanato já não tem mais condições de manter a renda total de Dona Aparecida, por isso ela conta com uma variedade de produtos em sua loja. Comerciante por condição, o que ela diz mesmo gostar de fazer é passar suas tardes descosturando e fazendo labirintos com os fios de linho, mantendo viva assim a tradição que perdura há várias gerações.

Saibamais

O labirinto também é conhecido como bordado labirinto ou crivo. Produzido a partir de tecidos finos, especialmente o linho, deriva de uma gama extensa de trançados europeus, introduzidos no Brasil por intermédio da colonização portuguesa no século XVII. Em território brasileiro, a arte se desenvolveu de forma distinta, combinando diversos elementos da cultura europeia a tradições litorâneas já existentes. A técnica permite a confecção de uma grande diversidade de gravuras, utilizando-se apenas do entrelace de fios sobre uma trama têxtil em forma de tela. Tal tela, derivada do desfiamento específico do linho ou outro pano, margeia-se de uma porção de tecido preservado, o qual forma meandros e figuras alongadas semelhante às paredes de um labirinto. As imagens bordadas, por sua vez, ilustram representações bem mais complexas, em especial, formas vegetais estilizadas, havendo grande preferência pela criação de folhas, flores, palmas e gavinhas.

(Fonte: Wikipédia)

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