terça-feira, 7 de junho de 2011

No #foramicarla, secos e molhados não dialogam

Depois da terceira rodada de protestos contra a prefeita Micarla de Sousa (PV), na manhã de hoje (7), que culminou em acampamento na Câmara Municipal de Natal, os ânimos se acirraram.

De um lado, declarações acusatórias do vereador Enildo Alves (sem partido) argumentam que há uma orquestração político-partidária por detrás das mobilizações; por outro, estudantes e sindicalistas, como Amanda Gurgel, são taxativos: “Se não presta, rua. E Micarla não presta para governar Natal”.

Flash Nominuto: #Foramicarla faz marcha rumo à CMN


Sob chuva, partiram os manifestantes da Praça Cívica, em Petropólis; tomaram a Avenida Rio Branco, em Cidade Alta, e logo seguiram para a fachada do Palácio Felipe Camarão, na frente do qual atribuíram à prefeita adjetivos que o bom senso censura a menção no texto jornalístico.

Mas nem só de baixo calão vivem os protestantes. Ensaiaram ciranda sob os olhos da Guarda Municipal e de faixas e cartazes empunhados gritaram em uníssono um audível “Fora, Micarla!”. Passavam das 10h30, quando marcharam para a Câmara Municipal do Natal.

TV Nominuto: #Foramicarla faz passeata no Centro de Natal

Nesse meio tempo, a reportagem do portal Nominuto.com conversou informalmente com transeuntes que assistiam às mobilizações. Impera a opinião de desaprovação à administração municipal, bem como a indiferença ao movimento. “Tanto faz”, é a opinião mais escutada sobre um provável impecheament – muitos perguntaram do que se trata – da prefeita.

Antes da 11h, o auditório do plenário da CMN foi tomado pelos manifestantes. Paradoxo de todos: de um lado, protestantes gritavam; do outro vereadores tentavam conduzir audiência pública. Entre eles um vidro divisor, que permitiu a ambas as partes se perscrutarem, mas impediu o acesso e o diálogo. Enildo Alves, sob vaias e protesto, encerrou a audiência.
Foto: Elpídio Júnior
Antes da 11h, o auditório do plenário da CMN foi tomado pelos manifestantes.

Enildo insinua trama da oposição
“É estranho que nenhum membro da bancada da oposição tenha comparecido à audiência, logo eles que mais frequentam esse tipo de sessão. Não vi Ranieri, nem Regina, nem George Câmara; nenhum opositor. É como se houvesse um prenúncio, que sabiam que aconteceria isso”.

Ao insinuar que a oposição orquestrou movimento classificado de baderna e anti-democrático, o vereador Enildo Alves disparou ainda contra os integrantes do movimento #foramicarla.

“São estudantes revoltados porque a prefeita acabou com a máfia das carteirinhas. Querer tirar do cargo, na tapetão, é golpe”, disse, acrescentando ainda que “não há nada de espontâneo. Há alguém por trás”.

Indagado pela reportagem, ele não se fez de rogado e começou apontando o nome de Hugo Manso: “Ele já foi visto em mobilização sindical. A própria Fátima Bezerra disse em entrevista que há sim movimento político dentro do #foramicarla. E lembremos que o PT foi derrotado em 2008 e 2010 em Natal. Agora é um revanchismo”.

Integrante da bancada governista, o vereador Ney Lopes Júnior (DEM) defende a manifestação pelo cunho democrático, mas adverte que “é preciso discutir pacificamente, ouvindo quem seja contrário ou favorável”.

Júnior lembrou também que é necessário haver fundamentação jurídica para um pedido de impecheament. “Uma CEI, por exemplo, que conclua objetiva e concretamente irregularidade abre margem para o processo de deposição”.

“E a CEI dos Aluguéis, é bom lembrar, não funcionou ainda por culpa da oposição. Agora o que não acontecerá é membros da bancada governista investigando a prefeita”, frisou Enildo Alves.


“Se não presta, rua”, diz Amanda Gurgel

Foto: Elpídio Júnior
"Se não presta, rua. E Micarla não presta para governar Natal."
Do outro lado, manifestantes defendem a legitimidade do protesto e reiteram a disposição a lutar. Integrante do movimento, o estudante de Ciências Sociais da Facex, Wesley Lima (conhecido por Geléia), 21, defende que a fala de Enildo é um contrassenso.

“Já temos carteira de graça, porque iríamos nesse sentido. A luta é para mostrar que Natal sofre com uma má gestão. Enquanto isso, Micarla tuíta ações que ninguém vê, coisas boas que não estão acontecendos. Mas o povo não ficará calado diante de seu imperialismo”, resumiu Lima.

A professora Amanda Gurgel, que integra os protestos, tentou simplificar as discussões: “Há um jogo da prefeita para se manter no pode. Não somos obrigados a engoli-la porque ela foi eleita. Mandatos deveriam ser revogáveis. Se não presta, rua. E Micarla não presta para governar Natal.

Amanda defende ainda o movimento ao lembrar que ele é legítimo não por se tratar de um pedido de deposição, mas por ser um apelo popular: “A legitimidade não está no #foramicarla, mas na mobilização em si”.

Pelo menos 100 integrantes ocupam desde o início da tarde o pátio da CMN. Convocam tantos quantos caibam para endossar os protestos e garantem a elaboração de uma pauta de reivindicações a ser discutida em diálogo com o proletariado em greve e outras categorias que queiram dar voz às reivindicações.

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