terça-feira, 12 de abril de 2011

Sem pagamento, coleta de lixo para

O acúmulo de lixo pelas ruas de Natal pode piorar nos próximos dias. A empresa Líder, que realiza a coleta domiciliar, de entulhos e podas em toda a zona Leste, paralisou as operações desde a   sexta-feira passada por falta de pagamento. Na central de transbordo dos resíduos sólidos, onde antigamente funcionava o forno do lixão, em Cidade Nova, cerca de 13 mil toneladas de  resíduos acumulam-se aguardando transporte para o aterro sanitário em Ceará-Mirim. No final de semana, apenas duas mil toneladas foram transportadas. No local, catadores se arriscam nas montanhas de lixo, enquanto cavalos saciam a sede numa lagoa formada pelo chorume que escorre em  decorrência da decomposição dos resíduos orgânicos e sólidos. 
fotos: emanuel amaralEnquanto o lixo se acumula, catadores arriscam a saúde no lixão de Cidade Nova, que deveria apenas ser estação de transbordo
Enquanto o lixo se acumula, catadores arriscam a saúde no lixão de Cidade Nova, que deveria apenas ser estação de transbordo

De um lado, o presidente interino da Urbana, Sérgio Pinheiro, afirma que não há atrasos em relação à Líder, mas assume os débitos com as demais empresas – Braseco e Marquise além dos caçambeiros. “Ocorreu somente um erro bancário que impediu o crédito dos salários nas contas nos funcionários da empresa Líder no dia correto”, ressaltou. Do outro lado, porém, operários dizem que os débitos se arrastam por dez meses e, durante este período, a terceirizada teve que recorrer aos repasses realizados pela Prefeitura de Parnamirim, oriundo de outro contrato, para quitar parte dos débitos com funcionários que trabalham em Natal.

O resultado da greve dos funcionários da Líder e da operação tartaruga deflagrada pela Marquise, é o acúmulo de lixo em  diversos pontos da capital. Na Avenida Dr. Mário Negócio, zona Oeste, em toda a sua extensão, havia concentração de resíduos nas esquinas das ruas perpendiculares na manhã de ontem. Além da irregularidade na coleta, o transporte do lixo depositado na área de transbordo do antigo lixão, em Cidade Nova, que é responsabilidade da empresa Líder, não estava sendo feito.
Somente no final de semana passado, após a locação de uma pá mecânica por R$ 18 mil mensais pela Urbana, de acordo com um funcionário, o amontoado de lixo começou a ser enviado para o aterro administrado pela Braseco, em Ceará-Mirim. Na operação, de acordo com Sérgio Pinheiro, foram utilizadas nove carretas que  precisaram se deslocar de Cidade Nova para Ceará-Mirim, 66 vezes, para transportar duas mil toneladas de lixo. Sérgio não detalhou se houve entendimento com a Líder para a realização do traslado.
Acredita-se, porém, que a decisão em agilizar a retirada do lixo amontoado se deu após a visita de técnicos do  Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA). Eles notificaram a Urbana e a empresa Líder a realizar a retirada dos resíduos acumulados na área de transbordo, armazenados inadequadamente. Os notificados devem apresentar ao Idema uma solução para resolver o problema do acúmulo de lixo e a presença de catadores no local. O laudo completo feito pelo Instituto foi enviado para à Justiça.
Além dos débitos com a Líder, a Urbana também deve à Braseco, à Marquise (que realiza a coleta nos bairros da zona Oeste e Sul), além dos caçambeiros que prestam serviços ao órgão em toda a capital, principalmente na zona Norte, onde a coleta é realizada por garis da própria Urbana. Questionado sobre quanto a Urbana deve a cada uma das empresas e aos proprietários de caçamba, Sérgio Pinheiro não soube detalhar o acumulado. “Estamos buscando ordenar a situação com as empresas terceirizadas e, para isso, estamos fazendo um levantamento dos débitos”, afirmou.
Os diretores das empresas Líder e Marquise, foram procurados pela TRIBUNA DO NORTE para detalharem os valores a serem recebidos do Município, mas não atenderam ou retornaram às chamadas telefônicas. O diretor presidente da Braseco, Henrique Muniz, afirmou que a situação chegou ao limite. De acordo com ele, a empresa espera receber cerca de R$ 12 milhões. De outubro de 2010 a março de 2011, nenhum pagamento foi feito à empresa. “Nós realizamos reuniões e o Município garante que vai pagar e não cumpre com o prometido”, frisou. Para manter a prestação de serviços, a empresa recorreu à empréstimos bancários.


dívida
Somente à Braseco, de acordo com o diretor presidente, Henrique Muniz, a Prefeitura do Natal deve cerca de R$ 12 milhões em atrasos e reajustes. Em documento de dezembro de 2009, o Município detalha o débito (reconhece pouco mais de R$ 5 milhões. Além disso, garante reajustar o valor repassado à empresa pelos serviços prestados no aterro sanitário de Ceará-Mirim.  Em resposta ao ofício nº 025/2009 enviado pela Braseco para regulação dos débitos e ajuste de tarifas, o então presidente da Urbana à época, João Bosco Afonso, afirma concordar com “os números do débito apresentados e aguarda uma nova oportunidade para futura negociação”.   Henrique Muniz afirmou que, por diversas vezes, se reuniu com representantes municipais e somente promessas foram feitas. “Não aceito mais promessas. Quero um documento assinado pela prefeita que garanta o pagamento dos débitos”, disse.


número

Com o intuito de reduzir despesas, o presidente interino da Urbana, Sérgio Pinheiro, afirmou que algumas medidas como redução da varrição em algumas ruas, cortes de horas extras e veículos utilizados na fiscalização dos serviços, serão implementadas nos próximos dias. Veja abaixo a quantidade e função dos funcionários lotados na instituição.
Garis de coleta     95
Operadores de trator     24
Podadores    29
Garis que recolhem entulho     45
Garis varrendo ruas e avenidas      164
Garis de varrição de praias      32
Garis de varrição/ limpeza de feiras  44
Diversos     45
Operadores de roçadeira      10
Garis dos ecopontos      10
Galpão de pneus      9
Fiscais      60
Drenagem de galerias      50
Administrativo    605


Problemas na Urbana vão além das dívidas

Um dos principais órgãos da administração indireta municipal, a Urbana enfrenta problemas que vão além dos débitos para com os seus prestadores de serviço. Alvo de uma ação judicial decorrente dos problemas com o transporte e acondicionamento do lixo, a Companhia paga, desde novembro do ano passado, uma multa diária de R$ 2 mil. Um dos  ex-diretores, João Bosco Afonso, deixou o órgão para assumir a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) com o acumulado de R$ 156 mil em multas. Além do órgão, o presidente também foi autuado pela Justiça e deve pagar o mesmo montante diariamente. 
Em menos de dez dias no comando, o ex-deputado estadual Luiz Almir, renunciou ao cargo alegando incompatibilidade de horários. Assumiu interinamente, o engenheiro Sérgio Pinheiro, que já havia sido presidente da instituição. Cercada por denúncias de desvio de verbas e de funcionar como um cabide de cargos comissionados, a Urbana hoje conta com um corpo de apoio administrativo que é praticamente igual ao número de garis concursados.
São 605 funcionários na parte administrativa. Para coletar lixo domiciliar, entulhos, podas de árvores, varrer ruas e praias e trabalhar nos ecopontos, são 802 garis concursados, incluindo os que trabalham na fiscalização e desobstrução de galerias. Além dos garis e funcionários da área administrativa da própria Urbana, mais 543 pessoas prestam serviços  à instituição. A Urbana passará por uma reestruturação organizacional para reduzir custos, segundo Sérgio Pinheiro.

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